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sábado, 27 de julho de 2013

JMJ: mudança de planos causa prejuízos e transtornos no Rio



A transferência de Guaratiba, na zona oeste do Rio, para Copacabana, na zona sul, como a sede dos últimos eventos do papa na visita ao Rio de Janeiro, neste final de semana, ampliou a lista de imprevistos da Jornada Mundial Juventude, diretamente ligados a falhas de planejamento. Moradores de Copacabana ganharam mais dois dias de transtornos no trânsito. Comerciantes de Guaratiba, que fizeram investimentos imaginando lucros expressivos, amargaram graves prejuízos.
Após o papa Francisco ficar encurralado em uma fileira de ônibus logo no primeiro dia de visita à cidade — por erro de comunicação entre a Secretaria Municipal de Transportes e a escolta do pontifício —, um novo problema apareceu de maneira “surpreendente”: a chuva. Foram três dias de garoa na capital fluminense, suficientes para transformar o Campus Fidei (Campo da Fé), em Guaratiba, em um lamaçal. Tornou-se inviável a realização de uma vigília e de uma missa por lá.
A prefeitura garante que não houve desperdício de dinheiro público na região. A construção de um espaço grandioso, com área três vezes superior ao Vaticano e capaz de abrigar confortavelmente mais de 2 milhões de peregrinos, foi bancada pela Igreja Católica, com a ajuda de patrocinadores. Aos cofres do município, coube arrumar as ruas no entorno e dragar canais, conforme explicou Eduardo Paes, ao custo de R$ 6 milhões. Segundo ele, apesar do cancelamento dos eventos da JMJ na região, as obras no bairro ficarão como um “legado da jornada”.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, os moradores de Copacabana receberam a notícia de que haveria mais dois dias de mudanças no trânsito, neste sábado e no domingo (27 e 28). As concessionárias que administram os transportes públicos tiveram que se adaptar às pressas.
A promessa é de que ônibus, trens e metrô funcionem 24 horas até o fim da JMJ. As barcas terão viagens extras durante a madrugada de sábado entre Rio e Niterói. A esperança é de que não se repita o caos de terça-feira (23), quando, faltando pouco para a missa de abertura, o metrô parou por duas horas em toda a cidade e causou reflexos no trânsito.
Para circular por Copacabana de carro, os moradores tiveram que adotar a tática de andar com um comprovante de residência. Quem esquecia o documento era barrado nos acessos ao bairro, ou, com sorte, gastava alguns minutos tentando convencer agentes de trânsito a passar. Na quinta e na sexta-feira, quem dependia de transporte público teve dificuldade para acessar Copacabana, já que o metrô era exclusivo para quem tinha comprado bilhetes com antecedência e os ônibus estavam impedidos de circular.
Marilene Silva, 40 anos, que trabalha como manicure em Copacabana, contou que teve que caminhar um longo trecho na quinta-feira para conseguir uma condução para voltar para casa, em Bonsucesso.
— O que foi ruim é que eu tive que andar até Botafogo [bairro vizinho], passar pelo túnel Velho, para conseguir pegar um ônibus. Era muito longe.
Já a moradora Mônica Fialho se mostrou conformada com as mudanças no bairro e parabenizou a boa educação dos peregrinos.
— Prefiro 40 JMJs a um dia de Carnaval ou Réveillon. Está certo que tem pouco transporte e está mal organizado. Mas não tem bêbado por aí, não tem nada quebrado, as ruas não ficam sujas. Os participantes são simpáticos e educados.
Neste final de semana, o metrô aceitará todos os cartões e não haverá restrição de acesso a quem comprou bilhetes com antecedência.
A mudança da vigília de Guaratiba para Copacabana afetou também um casamento marcado para este sábado no luxuoso hotel Copacabana Palace. Com o bairro bloqueado para o trânsito, o cerimonialista Ricardo Strambowsky teve que arrumar ônibus para os convidados chegarem à festa, o que, segundo ele, causou um constrangimento.
Prejuízo em Guaratiba
Um grupo de oito amigos microempresários se lamenta por ter gastado R$ 100 mil para alugar lojas em Guaratiba e comprar estoques de comida e bebida. Motivado pela expectativa de grandes lucros com a passagem de 2 milhões de peregrinos pela região, Marcelo Rosa vendeu o carro na tentativa de ampliar os negócios. Em entrevista ao R7, ele se mostrou inconformado com o prejuízo.
— Quando o Exército veio aqui e começaram os boatos de que o evento seria cancelado, fiquei sem chão. Eu tenho oito filhos, deixei de pagar pensão. Vendi meu carro, passei o ponto onde eu tinha um comércio para alugar outro, maior.
Marcelo contou que organizadores da Jornada Mundial da Juventude estimularam os lojistas a ampliar o estoque, a fim de dar vazão à grande quantidade de devotos que faria a peregrinação por Guaratiba. Segundo ele, os amigos comerciantes alugaram estabelecimentos em oito pontos estratégicos do bairro.
— Planejamos isso há dois meses. Nos últimos 45 dias, teve gente que largou tudo para trabalhar só nos preparativos para o evento. Eles [os organizadores] nos alertaram a aumentar a quantidade de mercadorias. Teve gente que pegou dinheiro emprestado. Um amigo usou o dinheiro da venda de uma moto, que estava guardado. Até agora ninguém da organização apareceu para dar apoio.

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