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domingo, 14 de abril de 2013

Nas mãos do mago

Arquivo/EMNa busca pelo bicampeonato da Superliga Masculina de Vôlei, o Cruzeiro tem como grande trunfo o levantador William Peixoto Arjona, de 34 anos, considerado por muitos o melhor da posição no país. Há quem diga que se ele estivesse nos Jogos Olímpicos de Londres poderia ter feito a diferença que o técnico Bernardinho precisava e o Brasil seria tricampeão olímpico. Um jogador de grupo, que divide as responsabilidades, as alegrias e conquistas com os companheiros. Um jogador que sofreu com a morte do pai, num dos maiores acidentes aéreos do Brasil, em 1996. E que se tornou ídolo na Argentina. Em entrevista ao Estado de Minas, William revela seus sonhos e a vontade de jogar pela Seleção Brasileira.

Como você sente o Cruzeiro para esta final? Qual o segredo do time para estar na terceira decisão de Superliga consecutiva?
“Nossa grande vantagem é o fato de estarmos juntos há muito tempo, há três anos. Cada um já sabe como é a bola de cada um. Nosso entrosamento é tanto que no aquecimento já sei como estará cada jogador, como ele vai se comportar no jogo.”

Quando surgiu o levantador?
“Eu sou fominha, por isso, só podia ser levantador. Além do mais, a altura, 1,86m, não ajuda muito. Não tinha muita opção. Adoro jogar, adoro ter a bola de decisão. O vôlei é minha vida, minha paixão.”

Você tem uma história de sofrimento, assim como sua família.
“O momento mais difícil da minha vida foi o dia 31 de outubro de 1996, quando aconteceu o acidente aéreo num voo da TAM que ia de São Paulo para o Rio, e meu pai, que também se chamava William, faleceu. O avião levantou voo no aeroporto de Congonhas e caiu 79 segundos depois. Ele e mais 98 pessoas morreram.”

Como você recebeu a notícia?

“Eu tinha 17 anos. Era um dos convocados pelo técnico Percy Oncken para a Seleção Brasileira Infantojuvenil. No momento do acidente, estava treinando, me deram a notícia e entrei em desespero. A primeira coisa em que pensei foi na minha mãe, Sílvia, e nas minhas irmãs, Daniela e Silvana. Nossa família é muito unida e eu só pensava em estar com elas. Confesso que só pensava em parar de jogar, para cuidar delas. Minhas irmãs são mais novas que eu e como não tínhamos mais o nosso pai, eu era o homem da casa a partir daquela hora. Voltei para a Seleção para comunicar a minha decisão ao Percy.”

Como foi a decisão de seguir jogando?
“Quem me ajudou foi o Percy Oncken. Ele conversou comigo, disse que não era para tomar a decisão naquela hora, que eu não podia parar, pois tinha futuro na profissão. Ele me deu a maior força, me orientou, a partir dali, por toda a vida. Eu me agarrei às palavras do Percy. Tive de amadurecer mais rápido. Éramos eu, minha mãe e minhas irmãs, que estavam estudando e precisavam continuar a escola. De cara, eu pensei que teria de manter a minha casa. Assumi isso e hoje posso dizer que consegui, que venci, assim como na quadra.”

Você ainda leva esse momento para a quadra?
“Tudo isso serve de inspiração e me estimula. Quero mais uma vitória de superação, mais um título. Tenho quatro na Argentina, pelo Bolivar; um pelo Suzano, em 1995, mas era reserva; e um pelo Cruzeiro. Com esse grupo sou também campeão sul-americano. Quero o bicampeonato da Superliga, como eu quero!”

Como ganhou o apelido de El Mago?
“Ganhei esse apelido na Argentina. Chegaram a me convidar a me naturalizar e jogar pela Seleção Argentina, mas não aceitei o convite. Queria voltar ao Brasil e talvez, um dia, vestir novamente a camisa da Seleção, o que fiz quando era jovem.”

Como foi sua vinda para o Cruzeiro?
“Fui convidado pelo Marcelo Méndez. Como o conheço há muito tempo e gosto muito do trabalho dele, aceitei. Fui muito bem recebido pelo grupo e já conhecia muita gente, que eu já tinha enfrentado. Isso facilitou a adaptação.”

Por que pediu dispensa da Seleção no ano passado? Você tinha a chance de ir para a Olimpíada…
“Eu estava contundido na época, com um problema no joelho. Tive de me tratar. Demorou para recuperar. Queria ter estado em Londres. Mas ainda alimento o sonho de defender a Seleção. Estou pronto para isso.”

Você tem uma superstição, com um bigode.
“Em todas as decisões, deixo o cabelo e a barba crescerem. Amanhã (hoje), antes de ir para o ginásio, vou raspar a barba e deixar o bigode, em homenagem a meu pai, que sempre teve um. Espero ter sorte novamente.”

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